O medo de agulha faz muitos adiarem a realização de
exames simples que detectam doenças sérias como o câncer, por exemplo, cujo
diagnóstico precoce pode significar a vida.
Estudos realizados em laboratórios da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP prometem uma
solução que facilitará ainda mais esses diagnósticos.
Os
últimos resultados da pesquisa concluíram que o suor pode ser uma boa
alternativa para o diagnóstico de câncer, já que encontraram nas amostras de
suor de pessoas com a doença, compostos voláteis com perfil diferenciado e em concentrações mais elevadas, conta a pesquisadora Fernanda
Ferreira da Silva Souza Monedeiro.
Esses
compostos orgânicos voláteis (encontrados mais facilmente na forma gasosa) se
apresentam com características diferentes nas amostras de suor de pessoas
doentes.
Para
Fernanda, o achado dá margem à interpretação de que esses indivíduos exalam um perfil diferente de
compostos com relação
aos indivíduos
saudáveis.
Comenta
a pesquisadora que os processos metabólicos normais levam o organismo humano a
produzir naturalmente compostos orgânicos voláteis.
Quando
doente, o organismo apresenta processos diferenciados em suas células,
produzindo, consequentemente, um conjunto diferente de compostos.
Com
essas informações, Fernanda investiu no suor como amostra biológica, analisando
possíveis diferenças na composição desses voláteis.
compostos
em maior concentração nas amostras de suor positivas para câncer, ela encontrou
os aldeídos lineares, fenol e 2-etil-1-hexanol.
Nas
amostras de urina dos mesmos pacientes, as maiores concentrações foram o fenol
e 2,6-dimetil-7-octen-2-ol.
Os
resultados encorajam a busca pela dosagem combinada de um maior número de
compostos voláteis.
A
pesquisadora acredita que, num futuro próximo, essa composição de voláteis
orgânicos do suor possa informar mais detalhes para o diagnóstico de tumores,
pois ainda não conseguimos aprofundar muito acerca
dos níveis
ideais destes marcadores para nos indicar a extensão e o local do tumor.
Método inédito e
com muitas vantagens
As
amostras para essa pesquisa foram coletadas no Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da USP.
A
opção pelo suor se deu em função da facilidade na coleta da amostra, que não é invasiva, tem composição pouco complexa e a boa correlação entre os níveis sanguíneos e as emanações da pele, informa Fernanda.
Outro
motivo que credencia o suor a se tornar uma ferramenta para diagnóstico precoce de câncer é a simplicidade no preparo da amostra.
O
método consiste na inserção da amostra em um pequeno frasco de vidro; fechá-lo
hermeticamente e, a seguir, aquecer o frasco à temperatura constante por 10
minutos.
Ao
final, uma porção da fase gasosa contida no interior do frasco é aspirada por
uma seringa e injetada no equipamento para análise.
Além
da facilidade com o método diagnóstico, a pesquisadora aponta mais vantagens,
como a alta sensibilidade e especificidade; a possibilidade de detecção de
vários tipos de câncer; coleta não invasiva de amostra (sem causar dor ou
constrangimento ao paciente); método acessível e relativamente de baixo custo
para a análise.
Apesar
de ainda exigir mais estudos, a utilização do suor para diagnóstico de tumores
pode ser uma boa alternativa.
Fernanda
acredita que amostras de suor podem substituir, por exemplo, as de sangue para
determinação do Antígeno Prostático Específico, o exame de PSA que detecta
câncer de próstata.
Estudos
como estes ainda são inéditos no Brasil. Segundo o orientador da pesquisa,
professor Bruno Spinosa De Martinis, do Departamento de Química da FFCLRP,
poucos grupos investigam compostos voláteis como biomarcadores do câncer no
mundo; porém utilizam amostras e métodos diferentes, não os voláteis do suor.
Entre
eles, De Martinis cita pesquisas nos Estados Unidos, Polônia, Áustria e Israel.
Mas, de
forma geral, no âmbito
internacional, os resultados reportados até então também sugerem um grande potencial dos compostos voláteis servirem como biomarcadores do câncer, completa.
O
orientador lembra que a pesquisa contou com a colaboração dos professores
Fernanda Maris Peria e Rodolfo Borges dos Reis, ambos da FMRP. As informações
sobre o potencial uso diagnóstico do suor como biomarcador para tumores é parte
da tese de doutorado Investigação de compostos orgânicos voláteis em amostras
de suor como biomarcadores no diagnóstico de câncer, apresentada por Fernanda
Monedeiro à FFCLRP e defendida no ano passado.
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