Economista defende que emoções pesam no bolso.
Quem tem mais dinheiro é mais feliz? Quanto vale a opinião dos
outros? Como as emoções afetam nossas decisões financeiras?
Essas são algumas das perguntas que os economistas Sérgio
Almeida e Samy Dana, de São Paulo, buscam responder no recém-lançado Pode Não
Ser o Que Parece (Objetiva, 39,90 reais).
No livro, os dois autores mostram, com base em pesquisas
científicas e exemplos concretos, de que maneira questões como relacionamentos
pessoais, frequência sexual e emoções influenciam o modo como gastamos e investimos
nosso dinheiro.
Professor na área de microeconomia da FEA-USP, em São Paulo,
Ph.D. em economia pela Universidade de Nottingham, na Inglaterra, e coautor da
obra, Sérgio Almeida concedeu a seguinte entrevista a VOCÊ S/A.
No livro, vocês citam uma frase de Arthur Schopenhauer [filósofo
alemão do século 19] que diz: “Nossa felicidade depende mais do que temos na cabeça do que nos bolsos”.
Isso é fato?
Sim. Evidências apontadas por diversos estudos sobre felicidade e
bem-estar indicam que dinheiro traz felicidade, mas só até certo ponto.
As pesquisas mostram que as relações afetivas, as amizades, a
atividade sexual, um trabalho no qual enxergamos sentido, por exemplo, são
fatores associados a boa parte das avaliações de felicidade das pessoas.
Uma delas demonstrou que elevar a frequência sexual de uma para
quatro vezes ao mês gera um ganho de felicidade equivalente a um aumento de
mais de 50 000 dólares
na renda anual.
Vocês também falam sobre a validação social. Por que nos
importamos com a opinião dos outros e de que maneira isso nos prejudica ao
lidar com o dinheiro?
A validação social pode ter motivações tanto boas quanto ruins.
Entre as boas está o fato de que podemos seguir os outros considerando que a
opinião deles conteria informações relevantes para minimizar o risco de erros
em nossas escolhas.
Um exemplo disso ocorre no supermercado. Quando estamos em
dúvida sobre qual marca de produto levar, às vezes investimos no que todo mundo
está comprando para reduzir o risco de adquirir algo de má qualidade.
Por outro lado, podemos seguir os outros por problemas de
autoestima, o que nos leva a buscar a aceitação alheia de forma pouco saudável.
É o que acontece, por exemplo, quando estamos indecisos sobre
onde aplicar o dinheiro e, em vez de analisar o contexto, repetimos o que
conhecidos estão fazendo, seja investir em títulos do Tesouro, seja comprar
bitcoins, seja adquirir um imóvel para alugar.
Como estamos sempre sujeitos a alguma interferência, a
recomendação é nos cercar de pessoas cuja influência seja positiva.
Qual a importância, aliás, das amizades no contexto financeiro?
Como eu disse, somos todos influenciados pelas pessoas que nos
cercam — uns mais do que outros. E não há nada de errado nisso, somos seres
sociais que aprendem com os demais.
Agora, é realmente importante saber qual estilo de vida e qual
tipo de comportamento queremos adotar para, então, identificar com quem
queremos ter laços de maior ou menor proximidade.
Não se trata de instrumentalizar as relações de amizade, mas de
nos proteger de uma influência indesejada.
As amizades nos impactam. Se nossos amigos levam uma vida
financeira saudável, é provável que sejamos estimulados a fazer o mesmo. Mas o
contrário também pode acontecer.
Qual o papel das redes sociais em nossa relação com o dinheiro?
As redes sociais amplificam esse processo de influência social.
Nossas redes não são mais restritas aos indivíduos com os quais interagimos
presencialmente.
Ou seja, somos persuadidos até por pessoas que não estão nos
mesmos espaços que frequentamos e por todo o conteúdo que circula na rede. Não
por acaso, o marketing das empresas está se deslocando para essas plataformas.
Isso tanto pode nos ajudar, trazendo informações importantes,
como nos prejudicar, dificultando nossa tarefa de resistir à influência que nos
desvia de usar os recursos a favor de nossos projetos de vida.
Quais as descobertas que mais o surpreenderam durante o processo
de investigação para o livro? E por quê?
Alguns estudos chamaram nossa atenção. Um deles avaliava o efeito
da opinião de frequentadores de um restaurante sobre nossas escolhas.
Pratos que estavam na lista dos mais pedidos vendiam de 13% a
20% mais. Impressiona como somos afetados o tempo todo sem perceber.
Outra pesquisa que se destacou foi sobre poder. Ela mostrou
quanto as pessoas podem gastar com supérfluos só para indicar status. Negros e
hispânicos, por exemplo, gastam cerca de 30% mais [doque grupos menos
vulneráveis]em bens visíveis, como roupas, carros e joias.
Em termos monetários, isso significa 2 300 dólares a mais por ano.
Por que cometemos tantos erros
ao fazer escolhas financeiras?
Devido a uma combinação de falta de informação com erros de
julgamento. Falhamos quando tomamos uma decisão sem ter bom conhecimento do
problema e das escolhas à nossa frente.
Isso ocorre quando adquirimos algum bem ou serviço sem nos
informarmos das opções disponíveis. Isso vale para a compra de um televisor e
até para uma aplicação financeira num banco ou numa corretora.
Erramos quando usamos atalhos mentais, que, a despeito de
simplificar a decisão, produzem avaliações equivocadas. Nossa inabilidade em
fazer contas compostas é um exemplo desse mecanismo.
Ela nos leva a ignorar que pequenos gastos, pequenas diferenças
de preço no que compramos e pequenas economias podem fazer muita diferença em
nosso balanço financeiro.
Como melhorar as tomadas de decisão que envolvem dinheiro?
Suas decisões financeiras são apenas um meio, e não um fim.
Primeiro, defina objetivos. O que você deseja obter na vida? É importante saber
o que quer para então traçar um plano sobre gastos e fontes de receita
necessários.
Segundo, informe-se. Gaste algum tempo entendendo o objeto de
sua decisão, seja a compra de uma casa, seja a aquisição de um serviço
financeiro. Faça contas. Pesquise alternativas. Por fim, avalie de maneira
crítica sua habilidade em seguir os planos.
Se você tiver problemas de autocontrole — e isso é comum —, crie
incentivos envolvendo amigos e familiares. Uma opção é fazer um jogo:
“Se eu não formar um fundo com 10% do meu salário ao final de um
ano, perco 30% do que depositei [para outros amigos que estejam participando do
esquema e cumpriram suas metas]”.
Tomar decisões melhores exige tempo e tem um custo. Mas esse
custo é baixo diante dos benefícios que pode trazer.
O autodomínio, como você mesmo disse, é o calcanhar de aquiles
de muita gente. É possível lapidá-lo?
A história de criar uma poupança forçada com a ajuda dos amigos
é um exemplo disso. É difícil reconhecer os problemas de autocontrole e, mais
ainda, adotar comportamentos para mitigá-los.
“Velhos hábitos morrem com dificuldade”, diz o ditado. É
importante fazer um esforço inicial, insistindo em novos costumes até que a
inércia os torne permanentes.
Nesse sentido, o planejamento é decisivo. Minha sugestão é
quebrar o plano macro em tarefas diárias menores, necessárias para alcançar os
objetivos.
Esta é uma regra testada e que se revela eficaz: definir
pequenas metas e oferecer a si mesmo recompensas por cumpri-las. Isso foi algo
que me ajudou a escapar desses vieses comportamentais que, muitas vezes,
sabotam nossas finanças.
© VOCÊ S/A
ENTREVISTA. Exame.com
Tamires
Vitorio.
Portal MSN.
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