Podemos ensinar nosso
cérebro a desejar alimentos saudáveis?
Outras
técnicas, como comer conscientemente, também podem ajudar a controlar o desejo
por alimentos pouco saudáveis.
Por mais que tentemos nos convencer, os alimentos
saudáveis não têm o mesmo sabor que a chamada "junk food", um tipo de
comida mais salgada, doce e gordurosa. Qualquer pessoa que diga o contrário
está mentindo escancaradamente.
Se a junk food tivesse um sabor ruim, então comer
alimentos saudáveis seria moleza. Mas, e se pudéssemos treinar nosso cérebro
para desejar comidas saudáveis? Parece impossível, certo? Talvez não seja.
Peta
Stapleton, professora associada da Escola de
Psicologia da Bond University, pesquisa a eficácia de técnicas psicológicas
para controlar o desejo por certos alimentos, eliminando as emoções negativas
em torno da comida.
Outras técnicas, como comer conscientemente, também
podem ajudar a controlar o desejo por alimentos pouco saudáveis.
Primeiro,
vejamos de onde vem o desejo por junk food.
Por que sinto vontade de comer alimentos pouco
saudáveis?
Segundo Stapleton, nosso desejo atual de comer
alimentos com poucos nutrientes tem origem na infância -- ou seja, o tipo de alimentos
que comemos quando crianças e como relacionamos (a nível pessoal e por causa de
nossos pais) alimentos com certas emoções.
"Esta é a base onde tudo começa -- tem a ver a
que você foi exposto", Stapleton disse ao HuffPost Austrália.
"Estabelecemos estas associações [negativas
com os alimentos], e estas podem ter sido estabelecidas durante a infância,
onde uma criancinha cai e machuca o joelho e a mamãe lhe dá um pirulito.
Estabelece associações muito fortes as quais ainda
estamos tentando desenredar em pessoas de 60 anos em terapia", explica
Stapleton.
"A comida nunca será a resposta
para fazer um sentimento negativo desaparecer"
As coisas só pioram "se você está fazendo isso
com seus filhos quando estão crescendo. Isso é certamente um problema quando os
pequenos estão acostumados a comer no McDonald's todas as tardes depois da
escola."
Em outras palavras, muitas vezes conectamos
tristeza ou raiva com uma recompensa ou solução: junk food. E o desafio é
romper essas associações.
Embora alimentos e emoções estejam intimamente
ligados, como explica Stapleton, "a comida nunca será a resposta para
fazer um sentimento negativo desaparecer".
"Estamos falando de o desejo constituir um
impulso fisiológico de comer algo e, obviamente, também pode ter uma ligação
emocional."
Então, claro, há o fato que alimentos processados e
bebidas -- particularmente aquelas com alto teor de açúcar -- acionam certas
respostas no cérebro.
"Para as escolhas de alimentos pouco
saudáveis, você recebe esse componente adicional do excesso de açúcar que
aciona certas funções do cérebro, por isso seus desejos na fase adulta (se
comeu muita comida do tipo junk food na infância) responderão da mesma forma
que o vício", acrescenta Stapleton.
"Não é apenas um mau hábito, na verdade está
sendo induzido, por isso as pessoas têm sintomas de abstinência se cortam o
açúcar."
É possível ter vontade de
comer alimentos saudáveis?
OK, e as pessoas no outro extremo do espectro?
Pessoas que sempre (e felizmente) se alimentam de maneira saudável nunca se
sentem tentadas em comer o bolo de aniversário na empresa ou donuts e têm uma
relação positiva com a comida saudável.
Embora possa ser frustrante e provocar inveja nos
amantes de junk food, isso mostra a possibilidade de desejar alimentos
saudáveis.
"Realmente acontece com muitas pessoas que não
têm desejos de comida mais negativos. Elas apenas têm uma natural inclinação de
comer alimentos frescos, como frutas e legumes", diz Stapleton.
"Estas pessoas tendem a ser mais guiadas pela
sensação quando comem algo. Porque frutas e legumes proporcionam uma melhor
sensação quando os comemos e, nas horas seguintes, é o que direciona a vontade
dessas pessoas de naturalmente se sentir mais inclinadas a comer esse tipo de
alimento na próxima vez", continua Stapleton.
"Se você sempre se alimenta de maneira
saudável, frutas e legumes frescos, é um estilo de vida. Não é que você seja
viciado em alimentos saudáveis."
Se você não for uma dessas pessoas que naturalmente
desejam comer alimentos saudáveis, como legumes, existem estratégias para
ajudar a treinar seu cérebro, como manter um diário de alimentação, se
alimentar conscientemente e administrar o estresse.
A pesquisa de Stapleton envolve participantes que
fazem acupuntura psicológica, também conhecida como Técnicas de Libertação
Emocional (EFT, na sigla em inglês).
"Em primeiro lugar, sempre atacamos os desejos
negativos de comida para removê-los", explicou Stapleton.
"Esta técnica psicológica usa pontos de
pressão -- mas não usamos agulhas como a acupuntura tradicional -- para atingir
a conexão emocional com o desejo alimentar.
O que estamos descobrindo é que, quando a conexão é
liberada, as pessoas perdem o desejo [por alimentos pouco
saudáveis], pois o alvo é uma parte do cérebro
que envia essa resposta ao estresse.
"Quando perdem o desejo de comer esses
alimentos pouco saudáveis, descobrimos que a inclinação natural de querer comer
alimentos nutritivos emerge por si só", diz a psicóloga.
No entanto, há muitas críticas
sobre a eficácia da EFT. Um estudo concluiu que "há pouco suporte para as teorias radicais
subjacentes às técnicas de psicologia de energia".
Outra análise
cita que "os pequenos êxitos observados nessas terapias são, possivelmente,
atribuídos às conhecidas técnicas comportamentais e cognitivas que estão
incluídas na manipulação de energia".
Como desejar alimentos
saudáveis
Aqui estão outras maneiras de treinar o cérebro a
desejar menos junk food e, como resultado, naturalmente ter mais vontade de
comer alimentos saudáveis. E é possível implementá-las facilmente no seu dia a
dia.
1. Faça um diário alimentar e de seu humor
Pesquisas mostram que registrar tudo o que você
come realmente ajuda a ingerir menos calorias. Um estudo com aproximadamente 1.700 participantes revelou
que manter um diário alimentar pode dobrar a perda de peso de uma pessoa.
"Eu recomendaria manter um registro [de tudo o
que você come] para que você possa revisar, já que boa parte disso acontece
inconscientemente, sem que você preste atenção", diz Stapleton.
"As pessoas se esquecem do que comeram ao
longo do dia. Até mesmo crianças podem fazê-lo."
"Os aplicativos são fantásticos para isso, já
que são imediatos se você tiver o telefone ao lado. Muitos aplicativos também
dão a oportunidade de gravar como você estava se sentindo quando comia. Isto
inicia a conscientização para que você preste atenção ao que está comendo."
2. Administre o estresse e as emoções
Se você constantemente se sente "emocionalmente faminto" e busca a comida como uma maneira de
solucionar uma situação ou de lidar com o estresse e emoções, concentre-se em
administrá-los de forma construtiva -- seja por meio de exercícios, conversando
com um amigo próximo ou profissional ou meditando.
"Acho que as pessoas encontram muitas
desculpas para justificar seus hábitos alimentares, mas a realidade é que você
deve ter fome apenas a cada três ou quatro horas", diz Stapleton.
Encontre
uma maneira construtiva de relaxar -- talvez caminhando na praia ou lendo à luz
do sol.
"A maneira que descrevemos a fome física é que
ela aumenta gradualmente desde a última vez que você comeu, enquanto a fome
emocional te atinge na cabeça imediatamente", explica Stapleton.
"Se você achar que, de repente, sente vontade
de comer chocolate, eu perguntaria: há uma emoção por trás disso?
Se você chega em casa e ataca a geladeira
imediatamente, mas almoçou duas horas antes, ou sente fome depois de jantar,
isso indica que há uma emoção aí e que você está tentando usar a comida para
alimentá-la."
3. Coma sem distrações
A alimentação consciente é constantemente repetida,
e por uma boa razão -- é que funciona.
"Sempre que realmente comamos, sentemos e
tentemos não fazer nada além de comer. Se você está assistindo à TV, lendo um
livro ou olhando o celular, acabará comendo 20% mais se não estivesse
distraído, porque não está realmente prestando atenção às sensações de comer e
de saciedade", diz Stapleton.
"Isto se chama alimentação consciente, é
realmente poderosa e você pode praticá-la literalmente e imediatamente."
4. Tente comer de olhos vendados
Embora Stapleton não esteja dizendo para que você
vende os olhos em todas as refeições, esta técnica de alimentação é uma maneira
de fazer com que você se sintonize com o sentimento de satisfação, como
"já comi o suficiente".
"Houve estudos na Suécia onde os participantes tiveram seus olhos vendados
durante uma refeição, e depois comeram exatamente a mesma refeição no mesmo
horário do dia seguinte, mas sem os olhos vendados.
Descobriram
que, tirando a visão da equação, as pessoas comem menos.
"Em minhas consultas, sugiro tentar essa
experiência e colocar uma máscara para os olhos na hora do jantar. Você ainda
achará a boca, mas, quando remove a visão (e todas as regras com as quais
crescemos como 'coma tudo o que está no prato porque há crianças morrendo de
fome na África'), acaba comendo menos.
"Alguns de meus clientes retornam e dizem que
pararam de comer quando se sentiram satisfeitos e, quando retiraram a venda,
ainda havia comida no prato. Provavelmente nos servimos de mais comida do que
precisamos", destaca Stapleton.
"Estas dicas podem ajudar a iniciar o
processo. Se você sente desejos intensos por comida e realmente não sabe de
onde eles vêm, talvez precise procurar alguém que possa ajudar.
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