Cadê
meu pacote?
Demora na entrega de compras feitas em sites
internacionais ultrapassa seis meses — e reclamações de clientes aos Correios
chegam a 140 mil por dia. Maior gargalo está em Curitiba
PACIÊNCIA
A arquiteta Doty, sua filha Maria e o vestido parado nos Correios há
seis meses: prazo de 40 dias não foi cumprido.
1.8K
Fazer compras em sites estrangeiros costuma ser vantajoso do ponto de
vista da economia: mesmo quando há incidência de impostos, os preços são mais
baixos do que os praticados no Brasil.
A vantagem financeira inicial, porém, pode se tornar prejuízo quando o
item comprado fora do País esbarra na ineficácia logística de órgãos como a
Receita Federal e os Correios.
A arquiteta Doty Oliveira, de São Paulo, está entre os milhares de
consumidores lesados por essa lentidão inexplicável. “Comprei com três meses de
antecedência um vestido para a festa de um ano da minha filha.
O aniversário já foi há três meses e o vestido ainda não chegou”, diz
Doty, desapontada. Além da roupa, outros produtos que ela comprou no exterior
pela internet também não chegaram.
E a culpa não é do site: uma mochila também comprada por uma amiga de
Doty que mora no Chile chegou em menos de um mês.
Ao rastrear o status da entrega no site dos Correios, a mensagem que
Doty encontra é de que o objeto foi encaminhado do Centro Internacional em
Curitiba para uma Unidade Operacional e liberado sem imposto.
Previsão de entrega: 40 dias
úteis.
Ou seja, a etapa que deveria ser a mais demorada — o desembaraço pelo
Recinto Alfandegado de Remessas Postais Internacionais de Curitiba, que recebe
300 mil mercadorias por dia — já foi concluída, e mesmo assim os Correios pedem
um mês e meio para trazer a carga da capital paranaense até São Paulo.
Mas nem o dilatadíssimo prazo informado foi cumprido. Consumidores
chegam a reclamar de entregas que estão paradas desde agosto.
“O número de produtos vem crescendo a cada ano”, diz Cláudia Regina
Thomaz, delegada da Alfândega da Receita Federal em Curitiba. “No final de 2011
eram 100 mil por mês. Agora estamos com uma média de 6 a 7 milhões”, diz ela.
A Receita Federal garante que mesmo com essa explosão da demanda, sua
parte é concluída em um período de dois a seis dias.
E enquanto a quantidade de encomendas cresce, o mesmo não ocorre com o
número de funcionários concursados dos Correios. Em crise e sofrendo as
consequências de anos de má gestão durante os governos petistas de Lula e
Dilma, a estatal vem acumulando prejuízos seguidos.
Desde 2015, os balanços divulgados pela empresa somam dívidas de R$ 5,5
bilhões. Ex-vice-presidente de finanças e controladoria da estatal, o executivo
Carlos Fortner assumiu há menos de um mês a presidência dos Correios com a
missão de solucionar um problema que não é só financeiro — é também de
confiança, uma vez que a cada dia 140 mil reclamações são registradas por
clientes insatisfeitos.
Fortner diz que os atrasos começaram no ano passado: “Tivemos um pico de
encomendas no Black Friday e no Natal, que se manteve até hoje”.
Recisão
de contrato
É no mínimo curioso que, passado tanto tempo, as entregas não tenham
sido normalizadas. Até porque o início do ano é historicamente o de menor
movimento no comércio.
Entre as explicações para o acúmulo de objetos não entregues está a
recisão do contrato de uma transportadora terceirizada, que deixou de atender
os Correios para ganhar o triplo prestando o mesmo serviço a uma empresa
privada.
“Temos restrições orçamentárias, mas tenho priorizado a operação”, diz
Fortner, que afirma ter liberado R$ 14 milhões para despesas de mão de obra.
O adicional orçamentário inclui pagar de horas extras, remanejar funcionários
e contratar mais empresas terceirizadas.
Outra dificuldade enfrentada pelos Correios é a concentração das
encomendas no Recinto Alfandegado de Curitiba, que recebe 90% das remessas
internacionais que chegam ao País na modalidade “petit paquet”, com peso de até
2 kg e baixo valor declarado.
A maioria dessas importações entra no País pelo aeroporto de Guarulhos,
em São Paulo, e de lá segue para o desembaraço em Curitiba (leia quadro em
destaque).
Depois disso, muitas retornam para São Paulo. Esse vai e vem custoso e
ineficiente só deverá ser solucionado no ano que vem.
“Estamos em negociação com um imóvel próximo ao aeroporto de Guarulhos.
A ideia é criar um centro de tratamento e uma área de triagem ali”, diz
Fortner.
Mesmo sem poder contar com o futuro local de triagem, o presidente
garante que novas remessas internacionais serão entregues dentro do prazo de 40
dias. Já as que estão atrasadas serão enviadas aos poucos até seus
destinatários.
(Crédito:
Marco Ankosqui) e Luisa Purchio.
Revista ISTOÉ online.
Nenhum comentário:
Postar um comentário