sexta-feira, 11 de maio de 2018


Cadê meu pacote?
Demora na entrega de compras feitas em sites internacionais ultrapassa seis meses — e reclamações de clientes aos Correios chegam a 140 mil por dia. Maior gargalo está em Curitiba

PACIÊNCIA 
A arquiteta Doty, sua filha Maria e o vestido parado nos Correios há seis meses: prazo de 40 dias não foi cumprido.
1.8K
Fazer compras em sites estrangeiros costuma ser vantajoso do ponto de vista da economia: mesmo quando há incidência de impostos, os preços são mais baixos do que os praticados no Brasil.
A vantagem financeira inicial, porém, pode se tornar prejuízo quando o item comprado fora do País esbarra na ineficácia logística de órgãos como a Receita Federal e os Correios.
A arquiteta Doty Oliveira, de São Paulo, está entre os milhares de consumidores lesados por essa lentidão inexplicável. “Comprei com três meses de antecedência um vestido para a festa de um ano da minha filha.
O aniversário já foi há três meses e o vestido ainda não chegou”, diz Doty, desapontada. Além da roupa, outros produtos que ela comprou no exterior pela internet também não chegaram.
E a culpa não é do site: uma mochila também comprada por uma amiga de Doty que mora no Chile chegou em menos de um mês.
Ao rastrear o status da entrega no site dos Correios, a mensagem que Doty encontra é de que o objeto foi encaminhado do Centro Internacional em Curitiba para uma Unidade Operacional e liberado sem imposto.
Previsão de entrega: 40 dias úteis.
Ou seja, a etapa que deveria ser a mais demorada — o desembaraço pelo Recinto Alfandegado de Remessas Postais Internacionais de Curitiba, que recebe 300 mil mercadorias por dia — já foi concluída, e mesmo assim os Correios pedem um mês e meio para trazer a carga da capital paranaense até São Paulo.
Mas nem o dilatadíssimo prazo informado foi cumprido. Consumidores chegam a reclamar de entregas que estão paradas desde agosto.
“O número de produtos vem crescendo a cada ano”, diz Cláudia Regina Thomaz, delegada da Alfândega da Receita Federal em Curitiba. “No final de 2011 eram 100 mil por mês. Agora estamos com uma média de 6 a 7 milhões”, diz ela.
A Receita Federal garante que mesmo com essa explosão da demanda, sua parte é concluída em um período de dois a seis dias.
E enquanto a quantidade de encomendas cresce, o mesmo não ocorre com o número de funcionários concursados dos Correios. Em crise e sofrendo as consequências de anos de má gestão durante os governos petistas de Lula e Dilma, a estatal vem acumulando prejuízos seguidos.
Desde 2015, os balanços divulgados pela empresa somam dívidas de R$ 5,5 bilhões. Ex-vice-presidente de finanças e controladoria da estatal, o executivo Carlos Fortner assumiu há menos de um mês a presidência dos Correios com a missão de solucionar um problema que não é só financeiro — é também de confiança, uma vez que a cada dia 140 mil reclamações são registradas por clientes insatisfeitos.
Fortner diz que os atrasos começaram no ano passado: “Tivemos um pico de encomendas no Black Friday e no Natal, que se manteve até hoje”.
Recisão de contrato
É no mínimo curioso que, passado tanto tempo, as entregas não tenham sido normalizadas. Até porque o início do ano é historicamente o de menor movimento no comércio.
Entre as explicações para o acúmulo de objetos não entregues está a recisão do contrato de uma transportadora terceirizada, que deixou de atender os Correios para ganhar o triplo prestando o mesmo serviço a uma empresa privada.
“Temos restrições orçamentárias, mas tenho priorizado a operação”, diz Fortner, que afirma ter liberado R$ 14 milhões para despesas de mão de obra.
O adicional orçamentário inclui pagar de horas extras, remanejar funcionários e contratar mais empresas terceirizadas.
Outra dificuldade enfrentada pelos Correios é a concentração das encomendas no Recinto Alfandegado de Curitiba, que recebe 90% das remessas internacionais que chegam ao País na modalidade “petit paquet”, com peso de até 2 kg e baixo valor declarado.
A maioria dessas importações entra no País pelo aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e de lá segue para o desembaraço em Curitiba (leia quadro em destaque).
Depois disso, muitas retornam para São Paulo. Esse vai e vem custoso e ineficiente só deverá ser solucionado no ano que vem.
“Estamos em negociação com um imóvel próximo ao aeroporto de Guarulhos. A ideia é criar um centro de tratamento e uma área de triagem ali”, diz Fortner.
Mesmo sem poder contar com o futuro local de triagem, o presidente garante que novas remessas internacionais serão entregues dentro do prazo de 40 dias. Já as que estão atrasadas serão enviadas aos poucos até seus destinatários.

(Crédito: Marco Ankosqui) e Luisa Purchio.
Revista ISTOÉ online.

Nenhum comentário:

Postar um comentário