O desespero de Marina Silva
Sem condições de participar dos debates eleitorais, por conta da
saída de dois parlamentares da Rede, a candidata ao Planalto corre contra o
relógio para reforçar a bancada
SEM VOZ
A Rede, de Marina Silva, que já conta com pouca estrutura, terá
dificuldade para verbalizar suas propostas na TV .
A campanha presidencial ainda engatinha, mas a pré-candidata da
Rede, a ex-senadora Marina Silva, já enfrenta uma série de intempéries na
tentativa de viabilizar uma candidatura competitiva.
Além do pouco tempo de propaganda no rádio e na televisão,
estrutura partidária frágil e menos recursos para financiar a campanha (a Rede
deve receber cerca de R$ 10,7 milhões do fundo eleitoral – é apenas o 22º valor
entre os 35 partidos registrados no TSE).
Marina Silva agora tem outra barreira para superar: a iminente
desfiliação de dois deputados federais da Rede, Alessandro Molon (RJ) e Aliel
Machado (PR), o que irá deixá-la de fora dos debates eleitorais na TV.
De acordo com a nova regra aprovada no ano passado pelo
Congresso durante a reforma eleitoral, o partido precisa ter ao menos cinco
parlamentares para garantir a presença nos debates.
Sem Molon e Aliel, a Rede ficaria com apenas três
representantes: os deputados Miro Teixeira (RJ) e João Derly (RS) e o senador
Randolfe Rodrigues (AP). Em entrevista ao jornal El País, Marina até tentou
abafar os aspectos capazes de prejudicar sua candidatura.
“Essa história de partido grande e partido pequeno, precisamos
aprofundar melhor esse debate. Olha a situação em que está o Brasil. Quem foi
que levou o Brasil a essa situação? Os partidos grandes!
Logo, o tamanho do partido e da bancada não é sinônimo de bom
governo, de boa gestão pública, ou de bom serviço prestado ao cidadão”,
afirmou. Marina pode até tentar minimizar, mas o problema é concreto: sem
capacidade de estrutura de campanha e sem participar dos debates, como Marina
venderá suas ideias ao eleitor?
Puxadinho do PT
O destino de Molon e Aliel será o PSB. Eles foram convidados
pelo presidente nacional da legenda, Carlos Siqueira.
Há meses, a relação de Molon com Marina Silva estava desgastada.
Na avaliação da presidenciável, o perfil agressivo de Molon estaria ampliando a
rejeição à Rede entre setores da classe média.
Marina concluiu que essa faixa do eleitorado passou a
identificar o partido como uma espécie de “puxadinho do PT”, o que acabou por
respingar em sua imagem e, consequentemente, na candidatura à Presidência.
Um dos fatores que levaram os eleitores a vincular a Rede ao PT
seria, justamente, a atuação parlamentar de Molon, que foi filiado ao partido
de Lula por 18 anos e só saiu em setembro de 2015.
Agora, Marina busca parlamentares de perfil mais moderado para
alavancar a popularidade da Rede e, assim, conseguir se consolidar como uma
candidata forte ao Palácio do Planalto.
“O povo é maior que a montanha de dinheiro, o tempo de TV e o
marqueteiro” Marina Silva, pré-candidata
da Rede a Presidência da República
Com a inevitável desfiliação de Molon e Aliel, Marina deu início
a uma verdadeira corrida contra o tempo para angariar mais parlamentares para o
partido. Pelo menos dois políticos já têm conversas avançadas com a legenda.
Se conseguir convencê-los, Marina garantirá a presença nos
debates. Caso não obtenha sucesso, a Rede ficará de fora dos embates na
televisão, que seriam uma grande oportunidade para Marina expor seu programa de
governo, já que terá poucos segundos na propaganda eleitoral gratuita.
Não à toa, a própria Marina tem conduzido reuniões com
parlamentares para conseguir novas filiações.
As baixas na Rede acontecem justamente no momento em que a
candidatura de Marina Silva apresentava melhores condições para decolar.
Com a saída de Lula da disputa, em razão da condenação a 12 anos
e um mês de prisão em segunda instância na Lava Jato, as pesquisas apontam a
ex-senadora como principal herdeira dos votos do petista.
Sem o ex-presidente no páreo, Marina alcançaria 16% das
intenções de voto e ficaria muito perto de uma vaga no segundo turno. Com Lula
na corrida presidencial, o índice dela cai para 9%.
Mas, para aproveitar o cenário favorável e não morrer na praia
mais uma vez em uma disputa presidencial, Marina precisa de apoios e alianças.
A pré-candidata aposta em sua trajetória de vida para conquistar
o eleitorado. Até agora, no entanto, a estratégia se revelou insuficiente na
hora de alçar voos mais altos.
(Crédito: Andre Penner).
Revista
ISTOÉ. Online.
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