Como estimular o cérebro a
produzir substâncias que deixam você mais feliz.
Existem coisas que dispensam explicação – e a
felicidade é uma delas: a experiência já vale a viagem. Mas e se você soubesse
como ativar e prolongar essa sensação sem necessariamente ganhar sozinha na
Mega-Sena ou antes de encontrar seu boy magia?
A ciência, incansável na busca para descobrir o que
acontece no corpo quando você está alegre, identificou um caminho para isso:
estimular os neurônios a produzirem serotonina, endorfina, dopamina e oxitocina – neurotransmissores considerados protagonistas
dos momentos felizes.
“São substâncias químicas que funcionam como
mensageiros capazes de ativar áreas do cérebro responsáveis por determinados
estados de ânimo e comportamentos”, explica a neurologista Aline Turbino, de São
Paulo.
Só
existe um inconveniente: eles não ficam em atividade o tempo todo.
O quarteto da felicidade é acionado quando a mente
detecta uma situação favorável e desligado em seguida – é por isso que o prazer
e a excitação permanecem por poucas horas ou só alguns minutos.
E, mesmo que reste uma lembrança gostosa no dia
seguinte, você pode acordar sem coragem de sair da cama ou não encontrar ânimo
para ir a uma festa – hora de acionar o cérebro para secretar uma nova remessa das substâncias
responsáveis pela sensação de contentamento.
Prefere que o sentimento venha acompanhado de uma
dose de excitação ou de relaxamento?
Dá para escolher. Quando identifica a relação entre
os neurotransmissores e a emoção que cada um promove na mente, você tem como
repetir episódios felizes, assim como evitar situações que despertam tristeza
ou mau humor, segundo escreveu a neurocientista Loretta Graziano Breuning no
livro Habits of a Happy Brain (“Hábitos de um cérebro feliz”, ainda sem
edição em português).
Pense no cérebro como se fosse um carro: ele
precisa de combustível, água, óleo e fluido para funcionar. Se o nível de um
desses componentes estiver baixo, o motor engasga, o freio pode falhar e o
veículo corre o risco de ficar desgovernado.
Já se todos os itens estiverem ok, tudo corre bem.
O mesmo acontece com o nosso estado emocional: na falta de serotonina, o mau
humor se instala; se não existir endorfina, cadê ânimo para malhar? E a tristeza vai ganhando
força.
Quando você quiser evitar que isso aconteça, entre
em ação para estimular as substâncias químicas da felicidade – saiba mais
detalhes a seguir sobre cada uma delas e as diferentes formas de acioná-las
mais vezes no seu dia e na sua vida.
1. Endorfina
Espécie de morfina natural, ela aumenta a
tolerância à
dor e proporciona prazer e euforia durante (e um pouco depois de) situações que
envolvem stress físico – por isso aquela sensação boa que você
sente no pós-treino, por mais puxado que tenha sido.
Então,
para atrair felicidade:
Faça
exercício
Aeróbico ou anaeróbico, de intensidade moderada ou alta – tanto faz. Malhar estimula a produção de endorfina. Mas cuidado: o poder
do neurotransmissor disfarçar a dor (traz alívio até para as cólicas menstruais) induz você a ir além dos seus limites e se machucar. Só quando o efeito passa é que o desconforto aparece.
Outro risco:
Atividades em intensidade muito alta por tempo prolongado anulam o efeito
bom da endorfina – você fica irritada e propensa a abandonar o hábito de se
exercitar.
Dê
risada
Assistir a uma boa comédia é endorfina garantida, segundo um estudo publicado
no Journal of Neuroscience. Após verem 30 minutos de vídeos engraçados,
os voluntários tiveram o cérebro escaneado e a imagem revelou um aumento do
neurotransmissor. Os participantes relataram sensação de alegria e prazer
depois da sessão de gargalhadas.
2. Dopamina
A poucos metros do fim de uma prova de corrida, é o neurotransmissor que faz você apertar o passo
para cruzar a linha de chegada, por mais cansada que esteja. No processo de perda de peso, a constatação de cada quilo eliminado eleva a
descarga da mesma substância, que a mantém no propósito de emagrecer.
A dopamina ainda empurra você a fazer seu melhor no
trabalho para obter reconhecimento ou uma promoção. “Ela é
responsável pela motivação e pelo foco para conquistar um objetivo”, diz a
endocrinologista Denise Iezzi, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Então,
para atrair felicidade:
Medite
Está comprovado: durante a prática, os meditadores
apresentam níveis mais altos de dopamina (serotonina e endorfina em menor
quantidade) no cérebro. O neurotransmissor facilita a concentração e o estado
de presença necessário para acalmar a mente.
Aprenda
algo novo
Pode ser falar um idioma, tocar um instrumento ou
viajar para um lugar diferente. O esforço e o fator novidade envolvidos no
processo de aprendizado têm
relação
com a dopamina e a ativação
do mecanismo de recompensa do cérebro.
3. Oxitocina
As sensações de segurança e confiança que nascem
quando estamos com a família, os amigos ou o crush se devem à oxitocina,
conhecida como o hormônio do amor e dos laços afetivos.
Durante a gestação e a amamentação, a secreção aumenta e aprofunda a
relação entre mãe e filho. Abraçar e olhar alguém querido também estimula
a produção da substância. E uma enxurrada dela invade
o cérebro quando você faz sexo.
Já os relacionamentos virtuais e o trabalho remoto
prejudicam os níveis de felicidade porque incentivam o isolamento social e
dificultam a construção de relações afetivas.
Então,
para atrair felicidade:
Ganhe
uma massagem
O toque estimula a oxitocina. Fazer e receber
cafuné, praticar atividade física e cuidar de um animal de estimação são outras
formas de ativar
o
neurotransmissor.
Pratique
o bem
Participar de trabalhos voluntários e incluir boas
ações
no dia a dia conectam você
com outras pessoas. Dar e ganhar presentes também estimulam o cérebro a liberar oxitocina.
4. Serotonina
Quase tudo o que você faz com gosto estimula a
produção do neurotransmissor que, não à toa, ganhou o apelido de hormônio do bem-estar. Ele faz com que você se sinta
animada e relaxada.
A falta de serotonina é preocupante: está associada à epidemia de depressão (doença definida pelos baixos níveis da substância
no organismo) no mundo – e tem tudo a ver com a rotina desequilibrada de quem
prioriza o trabalho e as obrigações e deixa em segundo plano o lazer, a
atividade física e os relacionamentos saudáveis.
Então,
para atrair felicidade:
Mexa
o corpo
Mesmo os exercícios leves servem de atalho para
você se sentir bem. Relembrar conquistas e momentos agradáveis (puxe na memória
ou olhe fotos) é uma forma de reviver situações felizes e desencadear a
serotonina.
Coma
chocolate meio amargo
Os flavonoides (compostos antioxidantes) e o triptofano presentes no cacau elevam a
produção do neurotransmissor.
Mas, para melhorar o humor, os componentes vindos
dos alimentos precisam atravessar a camada hematoencefálica – espécie de filtro
que impede as substâncias nocivas de chegar à massa cinzenta do cérebro.
O exercício é a solução.
“A atividade física regular aumenta a
permeabilidade da barreira e melhora o aproveitamento do triptofano e dos
antioxidantes ligados à produção de serotonina”, diz o fisiologista e
nutricionista Ricardo Zanuto, de São Paulo.
Tome
sol
Reserve 15 minutos do dia para se expor à luz
natural – essencial para a produção de vitamina D, que, entre várias funções, eleva o nível de
serotonina.
Fotos
ISTOCK.
Portal
MSN.
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